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JOSH KLINGHOFFER - Entrevista Exclusiva | Interview #05

Atualizado: 13 de mar.

Entrevista exclusiva para o 5 Notas com o Josh Klinghoffer! Ele fala sobre o mais recente álbum que lançou como Pluralone, chamado “This Is The Show”, e os seus próximos projetos, além de curiosidades sobre a sua carreira, citando seus trabalhos com The Bicycle Thief, Dot Hacker, John Frusciante, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Jane’s Addiction e muito mais.

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Interview with Josh Klinghoffer! He talks about the latest album he released as Pluralone, “This Is The Show”, and his upcoming projects, as well as curiosities about his career, talking about The Bicycle Thief, Dot Hacker, John Frusciante, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Jane’s Addiction and more.



Interview recorded in Sao Paulo - Brazil on March 23, 2023.


CONFIRA A TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA:


WENDELL CORREIA: Olá a todos! Sou o Wendell Correia. Entrevista especial com o Josh Klinghoffer. Muito obrigado por me receber, cara.

JOSH KLINGHOFFER: Obrigado você!


WC: Quais são as suas impressões sobre o Brasil? Esteve aqui várias vezes antes.

JK: É um lugar lindo. Nessa viagem, nós chegamos aqui ontem à noite e eu não saio muito do meu quarto de hotel porque eu já estive em todas essas cidades. Eu não sei se é porque estou mais velho ou se porque quando estou em turnê tudo o que quero fazer é tocar guitarra e ficar na cama. Ou ler ou qualquer outra coisa, mas não quero sair. Mas eu amo o Brasil, é um país fascinante. Uma das minhas turnês favoritas e que tenho boas memórias musicais são no Brasil.


WC: Isso é ótimo! E estávamos falando sobre português e você canta em português, a música “Menina Mulher da Pele Preta”. Cantou aqui em um Lollapalooza com os Chili Peppers e gravou a música. O que mais você sabe da língua portuguesa?

JK: Muito pouco. Muito pouco. Eu tentei aprender algumas coisas com o Mauro Refosco e ele me ensinou a pronúncia certa do seu nome, que é escrito com um “R”. Mas sei muito pouco português. E quando eu aprendi essa música, eu cantei muitas vezes. Eu tentei entender o que significa a letra em inglês, mas não sei se entendi direito o que quer dizer. Naquela época, eu sabia. Eu poderia cantá-la e citá-la para você naquela época, mas isso já faz anos.


WC: Eu sei que você é muito fã de Jorge Ben Jor. Você deve pronunciar de outra maneira. Mais alguém que você curte? E como conheceu o Jorge Ben Jor? Ele é muito conhecido aqui no Brasil.

JK: Eu acho que eu pronunciei o nome dele errado por muito tempo. Eu tento dizer como você disse agora. Eu não sei, mas teve um momento no começo dos meus 20 e poucos anos. Final da adolescência e começo da fase adulta onde senti que um mundo inteiro se abriu em termos de música, sabe? Cresci ouvindo o rock dos anos 90 e sinto que quando tirei minha carteira de motorista eu olhei para trás no tempo e tinha coisas como David Bowie, T Rex, The Stooges e esse tipo de música. E depois de um ano eu fiquei com sede de música. Tinha uma loja de discos espetacular em Nova Iorque chamada “Other Music” e revistas como “The Wire”. Ou mesmo revistas britânicas sobre música, como a “Mojo”. Todas tinham essas referências a música brasileira e várias músicas maravilhosas do mundo inteiro. Lembro dos discos dos Mutantes que foram relançados por lá. E parecia que aonde você fosse, tinha um novo artista brasileiro que algum amigo estava ouvindo. Tom Zé...eu lembro que ele fez algumas parceiras internacionais. Eu estava curtindo muito a banda Stereolab e eles fizeram essa mixagem online no início dos anos 2000 ou final dos anos 90 e a primeira música da mixagem era uma música chamada...Eu não quero pronunciar errado, mas era da Wanderléa. Tá certo, né? Wanderléa. E fiquei obcecada por essa música. JOSH ESTÁ CITANDO A MÚSICA “MANÉ JOÃO” DA WANDERLÉA. Eu estava obcecado por essa música e comecei a ler sobre ela. A música brasileira era uma área nova para eu explorar.


WC: Você curtia Bossa Nova?

JK: Um pouco. Eu tinha uns discos de Jazz. Elis Regina e Tom Jobim, esse estilo. Já faz um tempo que ouvi essas músicas, não consigo lembrar exatamente. Mas naquela época, qualquer coisa do Brasil, qualquer coisa com aqueles acordes...Eu lembro de ver uma amiga tocar muitas músicas brasileiras, de Bossa Nova, e pensar que eram acordes que eu nunca tinha visto antes. E lembro de vê-la tocar e assim que pude peguei um violão nessa noite e aprendi sozinho esses acordes e eles passaram a fazer parte do meu repertório. Eu lembro que a canção “Quotes” do Dot Hacker eu fiz dez anos antes de virar uma música e foi feita depois de eu aprender alguns desses acordes de Bossa Nova.


WC: Eu tento entender e sou brasileiro, são acordes difíceis de fazer. Você conhece o Tim Maia? Acho que você vai gostar bastante.

JK: Conheço, sim. Eu estava ouvindo muito as suas músicas na última turnê aqui, que foi quando fiz 40 anos. Já faz quase quatro anos. Três anos e meio atrás. Eu ouvi bastante.


WC: Ele é demais. Eu quero falar sobre o seu álbum mais recente, o “This Is The Show”. Como foi o processo de composição e gravação? Era para ser um álbum do Dot Hacker, certo?

JK: Sim. Começou meio que por volta de 2020 na época da pandemia, feito de forma colaborativa, com cada um em um lugar diferente, compartilhando arquivos. E o Clint Walsh tem feito produções musicais e fez um disco para reimaginar o álbum “Berlin” do Lou Reed. O que o tornou um produtor. Nenhum de nós estávamos em uma banda, então o Clint trabalhou muito de casa. Então sugeri para o Clint produzir e todos nós decidimos que seria dessa forma e fizemos a música “Divination” e foi muito bom. Então o pensamento era continuar seguindo e fazer um álbum completo. E foi legal me reconectar com os caras, especialmente porque talvez era mais fácil porque usávamos o Zoom e nos falávamos pelo computador. Quando começamos a trocar músicas depois do sucesso de “Divination”, achamos mais difícil fazer as outras, então acabou diminuindo a velocidade de produzir músicas e Clint e eu meio que continuamos porque eu tinha escrito músicas o suficiente para um álbum completo e ele estava se divertindo trabalhando com as coisas e então nós continuamos.


WC: Você tem uma música favorita no álbum?

JK: Sempre muda. Faz um tempo que eu ouvi. É difícil dizer. Eu tenho diferentes músicas favoritas. Todas as músicas no álbum em algum momento foram a minha favorita.


WC: E o que significa a capa do disco? Quem criou? Foi você?

JK: Fui que eu escolhi como capa do álbum. Mas é uma foto famosa. Me sinto mal por não lembrar o nome do fotógrafo, mas acho que...As revistas “Time” e “Life” tem o direito da foto, foi a quem nós pedimos autorização. Mas basicamente é o momento em que o Presidente Kennedy está dizendo para o país que estávamos muito próximo de ter um conflito com a União Soviética por conta dos mísseis que estavam em Cuba. Então foi um momento muito assustador para o mundo inteiro. Acho que os funcionários de uma loja de eletrônicos estavam assistindo o que poderia ser a qualquer momento o fim do mundo.


WC: E por que o nome “This Is The Show”?

JK: Bem...eu acho... Acho que tem uma conexão engraçado com o Seinfeld para o Clint e eu porque eles ficam dizendo no programa sobre a vida cotidiana “Isso é o show” e como esse programa é uma imaginação cômica da vida mundana. Essa vida que estamos vivendo é muito absurda em muitos momentos. Quando é realidade e quando não é? Eu não tenho mais certeza. Tá tudo ficando ainda mais embaçado do que nunca ou não? Eu não sei. De qualquer forma, “esse é o show”.


WC: Então você também é fã de sitcoms?

JK: De que?


WC: De sitcoms, como “Seinfeld”?

JK: Eu sou da época que os sitcoms, principalmente da NBC, foram uma das primeiras coisas que me ensinaram sobre a vida. Programas como “Cheers” ou...alguns antes de “Seinfeld”. Sei lá. Alguns programas que meus pais assistiam. Eu queria muito ser mais velho, então estava sempre assistindo na televisão programas como “Saturday Night Live”. Não é um sitcom, mas a televisão tinha mais de tudo. Tinha um papel mais crítico na cultura e acho que cresci nesse mundo. E acho que de certa forma a televisão reflete o que está acontecendo e onde estamos. Mas tem muitas coisas sem noção na TV agora. Definitivamente não é a mesma coisa que era quando eu era mais novo.

(PAUSA PARA TOMAR ÁGUA).


WC: Saúde! Obrigado pela água, Josh. Está um dia lindo em São Paulo.

JK: Eu tenho uma vista maravilhosa do meu quarto. Eu nunca entendi a cidade. Eu fico aqui e só vou a lugares muito perto do hotel ou sou levado de carro para outros lugares. Não faço ideia de qual parte da cidade estou.


WC: Aqui é na Zona Sul de São Paulo. E aqui do lado fica uma das sedes da mais famosa rede de TV no Brasil. Bem do lado do hotel.

JK: Talvez eu esteja vendo do meu quarto de hotel.


WC: Os lugares mais famosos de São Paulo ficam no centro, como a Avenida Paulista. E o lugar que você vai estar, a Audio, fica no bairro da Barra Funda. É um bairro legal. Você gosta de esportes?

JK: Sim, eu gosto.


WC: Não vamos ter nenhum jogo de futebol aqui porque a seleção brasileira de futebol vai jogar no fim de semana. Então não teremos futebol neste fim de semana. É um ótimo lugar para conhecer um pouco do Brasil.

JK: Sim, claro. Eu acompanhei em diferentes momentos da minha vida. Futebol é difícil para ficar acompanhando porque eu não tenho um time.


WC: Torça para o Palmeiras.

JK: OK.


WC: Eu quero ser honesto com você e com seus fãs que estão assistindo.

JK: Não sei se vocês se lembram da controvérsia que aconteceu com o Chad Smith por causa disso. Eu contei essa história outro dia. Eu sei como isso é sério aqui.


WC: Estou brincando. Eu sou Palmeiras, não sei o Josh.

Ah! E você precisa ver samba aqui. Pessoas tocando samba.

JK: Sim. Eu acho que já vi antes, sim. Principalmente quando eu estava em turnê com o Mauro, fizemos muitas coisas legais no Brasil. Fomos em lojas contemporâneas, foi um dos melhores dias da viagem. Fomos ver aquele grupo chamado Uakti. Acho que eles são de Belo Horizonte. É um grupo que faz seus próprios instrumentos, sabe? Se escreve UAKTI. Eles estiveram na ativa há muito tempo e fazem os próprios instrumentos. São potes de iogurte, canos de PVC, utensílios domésticos e eles os transformam em belos instrumentos musicais.


WC: Boa! E quero falar com você sobre a sua carreira. Você começou tocando bateria quando tinha nove anos, certo?

JK: Sim.


WC: Quantos instrumentos você sabe tocar agora?

JK: Quantos instrumentos?


WC: Guitarra, violão, baixo, piano, teclado, bateria...

JK: Sim, eu consigo me virar com todos os instrumentos do rock and roll. Se você colocar um instrumento clássico ou uma trompa na minha frente e um instrumento de jazz ou se você me disser para sentar com uma banda de jazz no piano talvez não consiga fazer muita coisa. Consigo brincar com bateria, baixo, teclados e sintetizadores.


WC: Sabe tocar vários. Qual instrumento você se sente mais confortável em tocar?

JK: O que eu menos me sinto a vontade de tocar é o piano porque é o que estou mais curtindo tocar nesses dias. Você perguntou com qual eu me sinto mais confortável, mas eu não sei a resposta para isso. É porque o que menos sei tocar é o piano, sinto que é nisso que passo a maior parte do meu tempo, então minha performance na guitarra e bateria sofre um pouco.


WC: Fala sério. Se VOCÊ não sabe tocar...

JK: Eu tenho praticado. Há tantas horas no dia que eu sempre digo a mim mesmo que vou gastar uma hora em cada um por dia. Mas nem sempre acontece.


WC: E qual instrumento você mais usa para compor?

JK: Piano e violão/guitarra. Tipicamente, no passado. Eu não coloco muito isso em prática porque eu tenho trabalhado bastante no piano e guitarra, mas eu quero trabalhar em músicas que são feitas através do ritmo, com bateria e baixo. Eu quero e adoraria fazer um álbum ou algumas músicas que comecem a partir da bateria e que tenha pouquíssimas coisas em cima disso. É o que digo a mim mesmo. Aí eu começo a fazer isso, mas penso em colocar esta guitarra e podemos tirá-la depois. Então quando percebo, começo a soar como qualquer banda antiga.


WC: Você tem que tentar o cavaquinho, conhece?

JK: Não muito. Um dos meus artistas e bandas favoritas é um grupo que o Mauro me mostrou que sempre falo o nome errado, mas chama Comadre Fulozinha. O nome dela é Karina Buhr. Ela é demais. Devo estar dizendo o nome errado. Se você não conhece, elas são demais.


WC: Vou confirmar. E você agora está tocando com o Jane’s Addiciton. Já tocou com os Chili Peppers, Pearl Jam. Como você desenvolve o estilo como guitarrista em termos de estilo, técnica, pedais. É difícil para você? Você pegou dicas com o Dave Navarro para as músicas do Jane’s Addiction?

JK: Eu não peguei nenhuma dica dele, a não ser que considere ouvir ele tocando e o observando como guitarrista e pessoa há 30 anos como dicas. Eu mandei umas mensagens para ele quando nos encontramos algumas vezes, mas não falamos sobre isso. A mesma coisa com os Chili Peppers. Eu não falei com o John sobre como fazer isso a partir do momento que eu que faria isso. Eu apenas era um fã dos dois. Fiquei muito próximo do John por muito tempo, vi como ele tocava as músicas. Sou fã do Jane’s Addiction há mais de 30 anos. Tem muitos álbuns ao vivo e arquivos de shows. E o mesmo com o Pearl Jam. Não toco as guitarras principais com eles, mas teve alguns shows que o Matt Cameron estava com covid e eu tive que tocar bateria em algumas músicas nesses shows. E tive um começo maravilhoso com essas bandas, especificamente. Eu conheço e amo as músicas dessas bandas por mais de três décadas. Isso facilita porque você não tem que pensar como é a música, pode apenas tocar da forma mais honrosa possível. Eu tenho um respeito enorme por essas bandas, esses músicos, essas canções e essas pessoas que a fizeram. Tudo que quero fazer é tocá-las com muito respeito e honrá-las.


WC: Eu estava assistindo uma entrevista com o Eric Avery e ele toca também no seu álbum “This Is The Show”, né?

JK: Sim. E ele também toca no primeiro, que se chama “To Be One with You”.


WC: Eu estava assistindo uma de suas entrevistas e ele lembra do dia que conheceu você. Foi quando você tocou em um tributo ao Joy Division com o Flea e o John Frusciante, na banda chamada Still. Você lembra?

JK: Sim, muito bem. Lembro de uma maneira muito viva. Foi no dia 10 de outubro de 2000. Dez dias depois do meu aniversário de 21 anos. Não! Foram sete dias depois. Então foi uma semana depois do meu aniversário de 21 anos. Flea, John e eu tocamos no Spaceland, em Silverlake (Los Angeles), que era um pequeno clube ou eu só pude entrar legalmente depois de completar 21 anos, que era há uma semana naquela época. Nos divertimos muito tocando aquelas músicas. John e eu estávamos trabalhando e nos encontrando muito naquela época. Fui muito bom para nós tocar aquelas músicas. E o John fez um trabalho ótimo tocando e cantando e foi legal para mim esses encontros com o Flea e tocar com ele pela primeira vez. Porque quando ensaiamos, acho que umas três ou quatro vezes na casa do Flea, nós improvisamos bastante. E começamos a tocar coisas...eu não acho que estava tocando muito a bateria naquela época, estava mais tocando guitarra. Começamos tocando algo que parecia jamaicano e eu não tinha ouvido muitas músicas jamaicanas naquela época. E eles fizeram umas sugestões do que eu deveria ouvir. Essa é uma das minhas memórias de música favoritas. Aquela semana, com os ensaios e o show. Não pude acreditar o quão bem nós tocamos. Quando o show acabou, voltamos para o camarim e parecíamos crianças. Estávamos muito empolgados. O camarim era muito pequeno, então abrimos a porta para entrar um pouco de ar e era bem onde as pessoas passavam. E uma das pessoas que vimos era o Eric Avery e eu ainda não o conhecia, mas sabia quem era. E posso dizer pelo olhar em seu rosto que se ele gostou do que tínhamos acabado de fazer, fizemos muito bem. Porque aquela era a banda que ele gostava. Ele conhecia a banda e as suas músicas muito bem. Se o sorriso no seu rosto era o indicador de quão bem nós tocamos, tocamos bem. Conheci o Eric rapidamente ali e também o Kevin Haskins do Bauhaus, que me disse quais sintetizadores de bateria eu deveria ter para tocar de uma forma mais fiel a música “She’s Lost Control”. Eu era jovem e foi uma noite maravilhosa.


WC: Como é ser amigo dos seus ídolos? Como você lida com isso?

JK: Isso muda direto, porque acho que comecei a ser amigo dos meus ídolos quando era adolescente. Nessa época, você apenas tenta sobreviver socialmente. Eu larguei a escola muito cedo, eu tinha 15 anos. E nunca aparentei ser mais velho. Então sempre fui essa pequena criança andando com mais velhos. Mas como em qualquer relação, não importa a idade de cada um, você tem que ser você mesmo. E mesmo naquela época, eu questionava quem eu era. Principalmente quando você analisa tudo que sai da sua boca. “Isso foi certo?”. “Eles vão querer sair comigo de novo?”. E talvez eu tive sorte de começar isso cedo para chegar agora quando eu saio com os caras do Pearl Jam, que estavam na parede do meu quarto quando eu era criança. É um pouco mais confortável para mim estar com essas pessoas porque eu finalmente tive anos de experiência sendo eu mesmo, sabe? Quando eu tinha 17 ou 18 anos, eu não fui eu mesmo por muito tempo. Então eu tenho sido eu por 40 anos ou mais que isso. Não sei o quão diferente eu posso ser, mesmo que eu quisesse.


WC: Você tinha uma banda favorita?

JK: Quando eu era uma criança muito pequena, The Beatles e The Beach Boys foram as minhas primeiras bandas favoritas. As duas, no mesmo período. Meu pai...Meus pais, mas meu pai um pouco mais, tinha uma grande coleção de discos de 7 polegadas e 45 RPM que eram vários singles. Tinha muitos dos Beatles e Beach Boys. Meu tio e meu pai gravaram algumas fitas para mim. Então eu era obcecado por isso. Então eu comecei a ouvir Guns N’ Roses e Mötley Crüe por um período. Mas o que eu senti que era meu “movimento” foi em 1991 quando tudo o que era conhecido como alternativo, o que era desagradável para alguns, todas essas bandas começaram a surgir, como o Pearl Jam e Nirvana. Todos eles começarem a ser conhecidos popularmente. Eu nunca tinha ouvido falar neles, tinha apenas 11 anos e assistia TV. O Sonic Youth era uma banda grande para mim e meus amigos. Todas essas bandas, como Fugazi, eram gigantescas para mim. Mudhoney era gigantesca para mim. Pearl Jam, Soundgarden, tudo isso. Pixies. O próprio Jane’s Addiction. Eu conheci o Jane’s Addiction em 1992. Sei especificamente por que conheci no ano seguinte que eles se separaram. Lembro que lamentei que não conheci vê-los por um ano de diferença. Foi um momento muito especial. Foi uma experiência legal ter a idade que eu tinha naquela época porque eu ainda era muito novo para poder ir aos shows, mas realmente acompanhei toda a década. Pude ver e meio que crescemos junto com isso. Em 1990 eu completei 11 anos.


WC: Com quem mais você gostaria de tocar? Por que você tocou com Gnarls Barkley, Beck, PJ Harvey...

JK: Não sei, não vou saber responder. De uma forma ou de outra, acabei tocando com todo mundo que eu queria.


WC: Tem alguns rumores na internet que não acho que seja verdadeiro de que você foi roadie do Foo Fighters. Mas na verdade você apenas tocou com eles quando você estava em turnê com o RHCP no ano 2000, certo?

JK: Sim, eu estava em uma banda chamada The Bicycle Thief e abrimos os shows para o Foo Fighters e o RHCP. Nós passávamos um tempo juntos e nos falávamos nos corredores. Foi quando eu conheci o Taylor Hawkins. Ele era um pouco mais novo que os outros caras. Ele tinha mais ou menos a mesma idade do John Frusciante. O Taylor, John, eu e o Chris Warren, que acompanha a turnê com o RHCP, passávamos um tempo juntos, falando sobre música, tomando café. Eu assistia as passagens de som do Foo Fighters e em uma das vezes o baixista deles ainda não tinha chegado no local, então eu toquei o baixo para eles.


WC: Tem uma foto famosa sua com eles. Ah, você sabe qual é. E as pessoas comentam que você já se apresentou com eles, e eu falo que acho que não.

JK: Eu toquei uma vez numa passagem de som porque quando o Dave Grohl lançou o primeiro disco, eu era muito fã do primeiro álbum do Foo Fighters. Não os acompanhei muito depois disso. Eu vi muitos shows deles. Eu os vi abrindo para o Mike Watt em 1995 e os vi duas noites seguidas no The Roxy Theatre em Los Angeles no mesmo ano. Eles tocaram a música “My Hero”, que seria lançada no segundo álbum, e achei ela incrível. O Taylor ainda nem estava na banda. Ainda era o Nate Mendel e o Will Goldsmith da banda Sunny Day Real Estate, que eu era muito fã. Eu sabia tocar todas essas músicas, eu aprendi todo o primeiro álbum do Foo Fighters. Então quando o Nate não apareceu, eu toquei. Eu nem lembro qual música eu toquei. É uma coisa engraçada. Acho que toquei com eles por uns oito minutos.


WC: Eu comecei a conhecer o seu trabalho quando você apareceu no DVD “Off The Map” do Red Hot Chili Peppers. Então eu conheci The Bicycle Thief, com o álbum “You Come And Go Like A Pop Song”. Então comecei a te assistir a comprar os seus trabalhos. Tenho os seus vinis na minha casa. E tem um momento especial em 2004 quando você trabalhou muito com o John Frusciante. Como foi esse período? E quantas músicas vocês fizeram juntos? Porque são muitas. E você também trabalhou com o Joe Lally do Fugazi no projeto Ataxia.

JK: Sim, naquela época. Eu e o John passamos muito tempo juntos, ouvindo músicas. Tem um período que ele estava se mudando bastante, então ele ficou morando no Chateau Mormant (Hotel em Los Angeles). E a coisa mais divertida para fazer era ir lá para o hotel. Ficávamos ouvindo música, cantando músicas dos Beatles, trabalhando em harmonias. E foi assim que a música “Omission” foi feita. Depois de uma noite inteira cantando músicas dos Beatles, fizemos essa música juntos. Eu estava sempre usando meu gravador de K7 com 8 pistas. Ele era fã do que tinha 4 pistas e mostrei que o de 8 pistas era bem divertido. Gravamos uma demo no de 8 pistas. E continuamos, ele tinha feito um contrato. A outra música que fizemos foi “The Slaughter”. Ele estava compondo muito nessa época. Eu ainda era muito novo. Eu não era... Eu ainda não sou o melhor para finalizar uma música de uma forma rápida. Meu processo de composição era ainda mais devagar naquela época. As músicas que ele trabalhou na época se tornou o álbum “Shadows Collide With People”. Eu lembro que os Chili Peppers estavam dando um tempo depois do álbum que tinham feito recentemente e o plano era para que fizéssemos esse álbum. E como esse álbum demorou muito tempo, bem no final dele, ele falou que não queria fazer isso de novo e que deveríamos fazer álbuns mais rápido e com menos pressão em cima disso. E ele estava compondo muito na época. E continuamos fazendo discos. E quando você tem sorte o suficiente para estar em uma banda como o RHCP, você pode ir ao estúdio fazer o que quiser. Eu fui incrivelmente sortudo de me beneficiar dessa experiência por conta de quem John é e dos nossos gostos na época, a forma de fazermos discos eram muito... Foi ficando cada vez mais desatualizado, gravando em fita e ao vivo no estúdio. Trabalhávamos nas músicas na sua garagem e decidíamos como ia ficar na hora. Deixávamos simples. Mesmo no “Shadows Collide With People”, nós editamos ao vivo e ficou um pouco estranho somente nós dois gravando, então chamamos o Chad Smith. Eu que tinha feito as partes de bateria, mas eu nunca tinha gravado a bateria. Ainda mais num estúdio como aquele, sozinho. O John ficava em uma cabine de gravação e ouvíamos o que gravamos de bateria e eu não gostava. Então o Chad chegou e foi a primeira vez eu realmente toquei com o Chad. Agora estávamos gravando como um trio e as músicas ganharam vida. O Chad fez o trabalho mais incrível ouvindo minha bateria e meu estilo de tocar e recriou de uma forma que quando eu ouço eu esqueço que é ele, porque parece com o que eu iniciei. E ele simplesmente me surpreendeu e nos tornamos amigos naquela época, mas não saíamos juntos até alguns anos depois, quando fiz uma turnê com eles e me juntei a banda. Ter essa conexão com ele, quando fizemos o álbum “Shadows Collide With People”... Talvez não tenha pensado nisso todas as noites, mas quando eu estava no palco com os Chili Peppers, tinha uma familiaridade muito grande ao olhar para ele tocando bateria e ter esses momentos. Eu amo o Chad. Ele é um dos meus bateristas favoritos e como pessoa.


WC: Mas você tocou bateria nos outros álbuns, certo? Você até aparece na capa do “The Empyrean”, tem o seu rosto lá.

JK: Sim, eu toquei bateria nos álbuns seguintes porque paramos de ter uma pressão em cima disso. No “Shadows...” achávamos que tudo que teria que sair perfeito.


WC: É porque o “Shadows...” foi lançado pela Warner Records e os outros de forma independente, certo?

JK: Sim, não sei os detalhes específicos, mas na época o John tinha trabalhado com a Warner, que tinha lançado tudo o que ele tinha feito. Eles queriam um álbum solo e acabamos demorando muito. Queríamos que fosse realmente perfeito e continuamos refazendo as coisas. John continuou cantando coisas e foi tudo divertido para mim por estarmos no estúdio, mas acabou demorando muito mais do que ele queria e foi muito cansativo. Então depois disso fizemos o próximo que se chama “The Will To Death” em duas semanas. Depois de dois meses, fizemos o “Inside Of Emptiness” em duas semanas também. Fizemos os álbuns do Ataxia em um fim de semana ou mais ou menos isso. Tudo saiu muito rápido. Então eu saí em turnê com a PJ Harvey e quando fizemos o “A Sphere in the Heart of Silence”, que tem nossos nomes, era eu finalmente tentando ter confiança na minha composição e canto, que ainda não curto. Quando ouço eu cantando nesse disco, tenho vontade de vomitar. Soa como algo medroso. Mas em relação a composição, eu estava muito feliz com esse processo de fazer a música. Isso foi quando eu comecei a me preparar para sair em turnê e estava aprendendo muitas músicas. Mas também fizemos rápido esses discos. E aí eu meio que fugi no restante do ano.


WC: Os fãs vão ficar bravos se eu não te perguntar isso: alguma chance de você tocar novamente com o John Frusciante?

JK: JK: Eu não diria que não há chances. Muitas vezes eu tenho visões que um dia, mesmo que a gente não converse muito durante o processo, sinto que seria legal tocar algumas dessas músicas novamente. Ou tocá-las ao vivo. Nunca tocamos ao vivo. Não temos nos falado muito. Mas eu sempre tive muito amor por ele. Ele é um dos meus músicos favoritos, um dos meus compositores favoritos. Eu não sou contra essa ideia.


WC: Eu não quero que você se sinta desconfortável. Se não quiser responder, tudo bem. Mas como você se sente em relação ao RHCP hoje em dia? Você ouviu os novos álbuns?

JK: Sim, eu tive que ouvir os novos álbuns. Eu não consegui não fazer isso. Porque eu estava ouvindo algumas coisas sobre eles, então ouvi. Na verdade, eu não terminei de ouvir o segundo álbum que lançaram. Eu estava tentando ouvir uma vez antes de pegar um avião e cheguei até talvez a música nove, mas não ouvi o resto.


WC: Eu entendo, deve ser complicado.

JK: É complicado apenas porque eu honestamente acho que estávamos fazendo músicas mais legais.


WC: Eu gostaria de ouvir o que vocês estavam fazendo. Algumas delas viraram músicas do Pluralone, né?

JK: Sim, algumas sim. Eu adoraria finalizar as músicas, sabe? Eu nunca vou querer que seja algo negativo alguém fazer música, mas eu honestamente fiquei em choque quando eu ouvi o novo álbum.


WC: Eu entrevistei o Bob Forrest quando vocês lançaram em vinil o álbum “You Come And Go Like A Pop Song” há alguns anos. Ele disse que iria te chamar para trabalhar com ele novamente com The Bicycle Thief, mas aí o Eddie Vedder te convidou para tocar. Alguma chance de fazer algo com o Bob Forrest novamente?

JK: Com certeza, 100% de chances. Eu acabei de escrever algumas coisas em Santiago que foram feitas para o Bob. Eu provavelmente tenho músicas suficientes no meu celular que estão nomeadas como “BT” e “BT2.0” ou apenas “Bob”. Eu e ele estamos em todos os lugares, difícil estarmos juntos no mesmo lugar. Os dois caras que produziram o álbum do The Bicycle Thief moram em Nova Iorque. Aquela área de Nova Iorque e Nova Jersey. Se não tiver pessoas brigando com nós dois, porque é muito difícil conseguir que Bob e eu desaceleremos o suficiente para fazer as coisas, mas garanto que faremos algo juntos.


WC: E em relação ao Pluralone, já está fazendo novas músicas?

JK: Estou sempre trabalhando em músicas novas. Tenho cinco músicas que gravei antes de estar ocupado há algumas semanas. O engenheiro com o qual eu trabalho acabou de me enviar novas mixagens delas. Eles estão pedindo para colocar os meus vocais, eles só precisam disso, que é o que pretendo fazer entre as turnês da América do Sul e a Austrália com Jane’s Addiction. Acho que tenho 12 dias ou mais. Acho que é tempo suficiente para colocar os vocais nessas músicas e terminar a composição de algumas delas. Mas sim, eu tenho mais da metade de um álbum que comecei no ano passado, quando nos juntamos pela primeira vez juntos no estúdio. Se eu me convencer de não tentar obsessivamente fazer algo de 7 polegadas ou ter 6 musicas de cada álbum, talvez eu consiga colocar as músicas do ano passado e essas 5 músicas que fiz nesse único álbum e então teremos um novo álbum. Mas parte de mim quer manter as 5 músicas que fiz como B-Sides e pegar as 7 do ano passado e fazer um álbum específico. Eu não sei. Eu terei muito tempo em quartos de hotéis e aviões para pensar no que fazer. O mais importante é finalizar as músicas. Eu não sei o que está no futuro para o Pluralone. Eu nunca vou parar de escrever e agora tenho a oportunidade de gravá-las de uma maneira muito fácil. Então provavelmente serão muitas músicas que serão lançadas.


WC: Demais! Eu com certeza estou ansioso para ouvi-las. E a última pergunta que quero te fazer: se você pudesse voltar no tempo e falar com o jovem Josh de 15 anos que quebrou a sua guitarra quando estava discutindo com a sua mãe sobre a sua carreira musical, sabendo onde está agora, o que você diria para ele?

JK: Não sei! Honestamente, não sei. Se eu falasse qualquer informação nessa época para aquela pessoa, eu com certeza não estaria onde estou agora. E mesmo que eu dissesse algo inteligente ou filosófico, como “fique bem onde está agora, fique tranquilo nesse momento e tudo o que ele está te proporcionando e não fique obcecado no futuro”, que é o eu digo para mim mesmo toda hora, se eu dissesse isso para aquela criança daquela época, eu não sei... Provavelmente tentaria obcecadamente tentado entender quem eu era como compositor e músico para estar na posição para poder tocar com esses músicos e pessoas incríveis. Sei lá. Mesmo se eu sussurrasse no ouvido dessa criança tenho certeza de que mudaria muito a trajetória da vida dessa criança.


WC: Muito obrigado, Josh! Obrigado por me receber. Obrigado por nos inspirar não apenas com a sua música, mas pelo ser humano que você é. Muito obrigado!

JK: Obrigado!


WC: E obrigado para o pessoal da sua gravadora (ORG Music), foram muito legais com a gente. Obrigado a todos! Josh Klinghoffer pro 5 Notas.








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